Olá,
Por meio desta venho aqui expressar a sua colocação e importância na minha existência.
Nossas Almas estão ligadas de alguma maneira ainda inexplicável. Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza e que nem a morte nos separe. Surgiu assim, quando pensei que estava sozinho neste mundo, quando achava que só eu sentia e passava por aquilo, no momento em que não me sentia parte de nada.
Você disse: “Não, você não é único e, por Deus! nem eu o sou!”. E nesse momento me perguntei como podia um estranho compartilhar de sentimentos e percepções tão minhas?
Nos sentamos e falamos sobre o tudo e o nada, rimos e choramos. Eu tinha medo de que você me achasse um tanto quanto estranho, você dizia que eu era a pessoa mais incrível que já tinha conhecido. Você me abraçou bem forte e naquele momento soubemos que dali para adiante tudo seria diferente para nós dois.
Você viu minhas piores caras, conhecia de cor minha expressão irônica. Sabia como eu pensava, sentia como eu sentia.
Eu te ligava para falar dos meus amores, dos meus horrores, do tempo, do medo, do passeio do fim de semana, de coisas do cotidiano, de coisas essenciais. Você me chamava para ir tomar sorvete, pra viajar, pra visitar sua avó, para andar por aí sem rumo e falar das pessoas, para pensar na vida.
Um dia combinamos: “Vamos acampar?”. Estava tudo combinado, em dois dias pegaríamos a estrada, escolheríamos um lugar e montaríamos acampamento. Um dia antes de sairmos te liguei e com frustração dei a notícia de que não poderia ir, pois tinha acordado com febre e dores pelo corpo. Você foi compreensivo (como sempre o era) e disse que poderíamos marcar para o próximo fim de semana. Insisti para que você fosse e se aprovasse o lugar, com certeza eu também aprovaria. Ficamos nesse impasse um bom tempo e por fim consegui te convencer a fazer a viagem.
Fui dormir me sentindo um pouco menos culpado, já que pelo menos você não iria perder o passeio por minha causa. Acordei de manhãzinha com o telefone tocando, era o seu número no identificador de chamada. Atendi e tamanha foi minha surpresa quando vi que a pessoa que falava comigo não era você. Havia muito barulho e foi difícil distinguir a voz que me fez perceber que o nosso acampamento combinado para o próximo fim de semana jamais chegaria.
A estrada estava molhada por causa da chuva que caiu à noite, a curva, dizia o policial, era muito perigosa e acidentes ali eram frequentes. Um carro estava vindo na contramão, você tentou desviar e até conseguiu, mas o sucesso desse ato te fez perder o controle do seu carro, que acabou capotando. Os paramédicos chegaram à conclusão de que sua morte foi rápida e com sorte, indolor.
Pessoas tentavam me acalmar e me abraçavam dizendo que tudo iria ficar bem. Mas eu não queria me acalmar, eu não queria ficar bem, eu queria ficar com você. Eu queria estar naquele carro, desejava ardentemente não ter conseguido te convencer a fazer aquela viagem.
Hoje entendo que sua morte não aconteceu por minha culpa, mas constantemente me acuso por não ter ido com você. Naquele dia uma parte de mim também se foi, uma parte que me faz falta, que ainda me faz chorar por saber que não esta aqui.
Me concentro em pensar que não acabou; que nossos caminhos ainda vão se encontrar, pois nossas Almas permanecem ligadas. Não é o fim, é apenas um pequeno intervalo de nostalgia.
Até um dia que rogo para que não demore a chegar, Amigo!
Com amor e saudade,
Aquele que jamais deixou de pensar no nosso reencontro, Eu